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Meu pai tinha um bar e botou uma máquina caça-níqueis. Com 14 anos, eu
estava compulsivo. A família tinha uma condição financeira boa e a levei à
falência total. Aos 16 anos, estava traficando por causa do jogo. Uma vez,
chegaram na minha casa para me matar porque ‘dei volta’ no dinheiro da
boca de fumo. Assaltava à mão armada. Cheguei a vender a cadeira da
minha casa e o chuveiro para jogar. Ganhar já não era o principal, eu
esquecia meus problemas na frente da máquina. Virei mendigo, pedindo
dinheiro para o jogo. Aos 19 anos, tentei suicídio. Vim ao JA e estou há
um ano em abstinência total, tenho minha casa e estou comprando meu
carro. Foi coisa de Deus. Mas recuperar a confiança é difícil; se sumir um
dinheiro na minha casa, acham que fui eu...” (Jeferson, 21 anos)


Relatos como o de Jeferson são ouvidos todos os dias nas salas dos Jogadores Anônimos (JA). São homens e mulheres de todas as idades, com um ponto em comum: a compulsão pelo jogo.

Atraídas pela perspectiva de ganho fácil, muitas pessoas apelam para o jogo. Algumas, no entanto, se tornam dependentes, o que leva a distúrbios de personalidade, problemas financeiros e emocionais: “Minha esposa passou a sustentar a casa. Eu escrevia cartas para ela, pois não tinha coragem de conversar”, conta Bruno, um advogado de 35 anos, que chegou a fazer empréstimos em financeiras só para jogar. Resolveu mudar quando voltou para casa a pé, de madrugada, sob chuva, pois gastara o dinheiro do metrô no bingo. Entrou para o JA do centro da cidade e está recuperado.

Porém, estar recuperado não significa estar curado. A compulsão pelo jogo é uma doença que pode, apenas, ser controlada. E esta é a função do JA, irmandade que reúne jogadores que, através da troca de experiências, procuram controlar o vício. Fundado em 1957 nos EUA, o JA garante total anonimato a quem o procura. Daí o pedido de que usássemos nomes fictícios nesta matéria.

Detectar um jogador compulsivo não é fácil: “O jogador é um enganador. Um alcoólatra você vê na cara, já o jogador, por fora, está rindo e, por dentro, está mal”, explica Bruno. Assim, o JA possui um questionário para ajudar a diagnosticar um jogador compulsivo, que será convidado a participar das reuniões.

As reuniões são baseadas em 12 passos. Cada reunião é um passo. Quando se chega ao 12º, volta-se para o primeiro, exatamente porque não há cura. Nos encontros, o jogador pode dar depoimento ou apenas ouvir os demais. Ele também pode escolher um padrinho que será responsável por ajudá-lo na recuperação. Quem consegue se manter abstinente, a cada mês, recebe um chaveiro e, quando completa um ano, recebe uma placa.

A Paróquia da Ressurreição há anos acolhe um grupo de JA. Um freqüentador, João, 67 anos, também conta os maus momentos pelos quais passou: “Peguei um revólver e ia me suicidar. De repente, deu um relâmpago, e no vidro vi o retrato de uma mulher. Não sei se foi o de minha mulher, se foi o de Nossa Senhora... Jurei que não ia mais jogar. Estou no JA há nove anos e recuperado”.

Quem conhecer alguém que precise de ajuda, pode procurar o JA na paróquia toda terça ou quinta-feira, às 19h ou visitar o site www.jogadoresanonimos.org.