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“Comer e coçar é só começar”, diz o ditado. Mas, para muita gente, comer não é prazer, mas pulsão que se transforma em dor e arrependimento, em gesto incontrolável, em aprisionamento. Ou então, é um prazer enorme e passa a ser escape, fuga, artifício que a pessoa usa para não enfrentar as dificuldades do dia a dia. O resultado é não parar de engordar, com todas as consequências que isso acarreta, como doenças, fadiga crônica, apatia, sentimento de inadequação e de estar mal consigo mesmo e com a vida.
Mas não é preciso desanimar: a irmandade leiga Comedores Compulsivos Anônimos (CCA) inicia estas pessoas na filosofia dos 12 Passos, no caminho do auxílio mútuo, no “Só por hoje”, lema que se repete, dia após dia, e ajuda a fazer a diferença.
Se você já percebeu que a comida é seu vício e que não consegue administrar a compulsão, participe: as reuniões, na paróquia, são às 9h das terças-feiras, basta chegar e se apresentar.
Fui ver de perto e me impressionaram os depoimentos: foi incrível ouvir M falar de seus “18 anos, 2 meses e 10 dias” de renovação cotidiana do compromisso. De suas mil dietas e internações em clínicas, gastos com psicólogos, psiquiatras, parapsicólogos, e dos 122,6 kg que chegou a pesar (olho a senhora elegante e me custa acreditar!). L fala de sua luta contra a gordura e a diabetes e conta que tem mantido, por razoáveis períodos sua taxa de glicose nos padrões. Também ouço X que fala das anfetaminas, das mil e uma dietas e da incessante perda e ganho de peso, até que a filha, psicóloga, recomendou os CCA. De G escuto que o mais difícil é seguir o “Só por hoje”, pois a luta é para se manter firme nas próximas 24h, que a batalha se ganha a cada dia: “É uma tarefa que desanima de saída mas, aqui, aprendemos que é no dia a dia que exercitamos nossa vontade”. E Y, que acaba de chegar da Itália onde se refestelou de massas, conta que perdeu tanto peso e se sentiu tão bem logo que entrou, que largou o grupo e pensou em continuar sozinha: “mas, hoje, sei que é do apoio que cada um dá ao outro, no grupo, que nos beneficiamos. Voltei, para ficar”.
Não tem censura nem obrigação prévia. Vai quem quer e quando quer. Mas é bom saber que a irmandade é reconhecida até pelos mais empedernidos cientistas e que muitos membros chegaram recomendados por médicos, endocrinologistas, psicólogos e psiquiatras.


por Maria Christina M. de Castro (jan/2010)